25/02/2011

“Essa tal qualidade de vida!”


Ontem recebi um texto de uma amiga do trabalho que falava sobre a qualidade de vida. Eu sou suspeita para falar, pois adoro todos os textos da Martha Medeiros. Mas, esse sobre traduz um momento muito delicado da minha vida. Digo minha, mas acredito que outras pessoas também estão no mesmo barco, na mesma direção e na mesma causa. O que não é, necessariamente, bom.

Espero ler esse texto um dia e pensar: putz, como ela pode pensar assim? Nossa realidade não combina com essa descrição. Pois hoje, 25/2, é exatamente assim que estamos: nos desmanchando por qualquer coisa.

Texto na íntegra:

Qualidade é viver de acordo com nossas possibilidades, é administrar a vida com a humanidade de que dispomos.

Os anos 90 insistiram numa ideia que virou sonho de consumo de todo mundo: qualidade de vida. Até hoje dá vontade de entrar numa loja e perguntar: tem qualidade de vida? Provavelmente nos responderiam que está em falta, muita procura, mas pode deixar encomendado.

Qualidade de vida, se pudesse ser filmada, teria a cara de um comercial de margarina. Família bela e saudável, uma casa aconchegante, um dia de sol, café-da-manhã farto, papai empregado e filhos na escola. Qualidade de vida é um modelo de comportamento, qualidade de vida é um carro com um bagageiro enorme.

E a qualidade das nossas emoções? Compra-se também. As mais fortes são as que têm mais saída. Tudo pelo preço de um ingresso de cinema.

As pessoas têm estado cansadas demais para produzir seus próprios sentimentos. Assustadas demais para olhar para dentro. Confusas demais para reconhecer seus medos e desejos. Passivas demais para transformar tudo o que sentem em ativo. Procuram artigos prontos em vez de fabricá-los.

Qualidade não vem com facilidade, não conquistamos com um estalar de dedos. Qualidade, essa palavra difícil de conceituar, só se consegue fazendo as coisas com amor, e eu mesma não me suporto dizendo uma coisa tão piegas, mas é que a pieguice tem lá seu cabimento e às vezes exige nossa rendição. Não há qualidade sem tratamento, sem olho atento, sem uma bela intenção.

Qualidade é tudo o que a gente ordena sem precisar gritar, é a maneira educada com que nos relacionamos com as pessoas, é o cumprimento de nossas tarefas com responsabilidade, é o compromisso que estabelecemos com a gente mesmo de fazer as coisas da maneira menos estabanada.

Qualidade é a verdade dos fatos, é não teatralizar a vida. É reconhecerse humilde diante das nossas falhas, tantas. E tentar errar menos.

Qualidade é viver de acordo com nossas possibilidades, administrar a vida com a humanidade de que dispomos, chorar de ódio por sermos vulneráveis, mas pensar que melhor isso do que não termos sensibilidade alguma.

Qualidade é amor que se sustenta, é amizade que não é um blefe, é confiança que não é traída, é demonstrar o que se sente, apertar a mão com firmeza, dizer não e dizer sim com a mesma honestidade, é a inocência de uma fé generalizada e crença na própria natureza.

Parece uma oração, eu que sou quase agnóstica. Mas é isso. Qualidade é tudo o que não se desmancha facilmente.

MARTHA MEDEIROS.

Imagem: http://www.coisitasdeluxo.com.br/?p=2294

2 comentários:

wcastanheira disse...

Parabéns, Martha é show, junto com a Lya, Scliar e Veríssimo compõe esta geração maravilho q enriquece ao gaúcho, sem menospresar a grandiosidade a eloquencia do Davi e Carpinejar q estão aí pedindo espaço, abrindo alas, vc foi muiiiito feliz na escolha, pra vc FELICIDADES e SAÚDE é claro.

Raquel - artepapel&madeira disse...

Amo a Martha!!

Beijos!