24/09/2010

Vida de cachorro


Me fazem de bobo: mandam entrar, sair, sentar. Me xingam e passam a mão na minha cabeça. Não entendo as regras, elas não são claras. Duas pessoas me dão ordens diferentes. Qual seguir? Sigo a voz que me agrada. Sigo o carinho que me conforta. Embora eu não entenda os castigos que recebo, sei que sou amado, que realmente gostam de mim: ganho comida, água fresca, cama fofinha e alguns ossos que me alegram.

Quer dizer, às vezes acho que nem gostam tanto assim de mim, pois me mandam para lugares barulhentos, com outros animais, me jogam água, me afofam, puxam, esticam e passam um vento quente irritante. É difícil essa minha vida. Mas me divirto! Para passar o tempo arrebento chinelos, arrasto panos da porta, leio a Zero Hora de domingo, rasgo sacos. Tenho que arrumar o que fazer nessas longas horas de solidão. O brabo é que ninguém me entende. E quando os donos chegam recebo sermões e não a atenção que eu gostaria.

Se pelo menos eu pudesse andar solto e sair por aí...mas não. Fico dentro de um espaço minúsculo ou pela casa abandonada. E pior é que as coisas que me interessam ficam fora do meu alcance e, muitas vezes, fora da linha de visão. Para ter acesso, preciso subir em sofás, camas, mesas e janelas. Nesse momento, mais sermões...

Que raça estranha essa dos humanos! Se sou destrambelhado, arteiro e desajeitado, mas no fundo sou é fiel a quem cuida e gosta de mim.

Curso de Redação Criativa

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