24/04/2009

Técnica ou paixão?


Assisti recentemente um filme que me impressionou e me levou a pensar muito. O enredo mostrava o esforço de uma moça em alcançar seu objetivo de ser bailarina. Testes depois ela resolve fazer outra coisa na vida, até porque precisava se sustentar, deixando em segundo plano seu sonho. Sua reprovação ocorreu porque ela não tinha a técnica perfeita dos movimentos.

Para tudo! Foi neste ponto que minha reflexão se aprofundou e fez um giro interior. Comecei a perguntar se ter uma técnica perfeita é o mais essencial nesta vida. Falo de qualquer tipo de técnica e não apenas dos giros do balé. Refiro-me ao inglês fluente, ao contador que nunca erra, ao publicitário que é criativo 365 dias no ano, do juiz que foi injusto, do advogado que se passou em uma cláusula, do médico que não descobriu uma doença, dos professores que devem saber suas disciplinas de trás para frente, entre tantas outras profissões que exigem técnica e teorias perfeitamente alinhadas. Pensando sobre isto, e acompanhando o filme, fortaleci minha ideia de que o movimento exato, o giro perfeito qualquer pessoa com dedicação e muito treinamento adquire. Agora, ter paixão pelo que se busca, trazer fogo no olhar e disposição para levantar nos obstáculos é um dom que nasce ou não com a pessoa. Você deve estar pensando: a paixão termina e o fogo acaba. Quando alguém tem prazer pelo que faz, esse sentimento tantas vezes efêmero, vira amor. Torna-se uma relação de cumplicidade. O amor sendo alimentado e regado diariamente, acende a chama que fica acessa dentro de cada um.

Aquela menina do filme não era a melhor tecnicamente, mas o brilho que ela carregava quando dançava e a expressão de felicidade em seus lábios era incomparável. Ela foi longe e não desistiu. O frio do “seu inverno” não apagou o calor interno e quando chegou à primavera ela desabrochou como uma linda flor. Um bom instrutor ensinou a jovem a melhorar suas deficiências, mas ninguém consegue ensinar outra pessoa a amar o que faz, a ter paixão pela profissão e pela vida. É esta essência que diferencia uma pessoa da outra. E mesmo quando o melhor técnico disser que você não é bom o suficiente, não acredite. Talvez esse não seja seu momento e de repente você precise se dedicar mais, porém persista. Ninguém tem o direito de apagar sua luz e diminuir seu calor. Deve ser mais um sapo querendo apagar o brilho do vaga-lume, comendo-o. Quando se ilumina de mais, alguém se sentirá incomodado.

Afinal, o nome do filme é “Sob a luz da fama: o poder da paixão”, com direção de Steven Jacobson, lançado em 2008.